Ter uma vida ativa, boa alimentação e uma rotina saudável de atividades físicas são os maiores objetivos de quem procura performance e bons resultados nos treinos. Mas existe outro fator que vai além desse tripé básico do cotidiano e que muitas pessoas deixam para depois: a saúde mental do atleta.
O equilíbrio entre corpo e mente sempre foi importante, mas se torna ainda mais indispensável no período de isolamento em que vivemos, onde a ansiedade, estresse e incertezas tomam de assalto a mente dos atletas que precisam reinventar a forma de treino para manter o condicionamento e o dia a dia de exercícios.
Nesse momento adverso a palavra-chave é movimento. De acordo com Ricardo Brandt, triatleta amador, professor e doutor em Ciências do Movimento Humano, essa situação afeta diretamente praticantes de exercícios regulares e principalmente atletas e a ideia é manter uma vida ativa, mesmo que seja preciso diminuir ou alterar a frequência de treinos. Para ele, a resiliência é a principal aliada durante a pandemia. “A gente precisa ter maturidade, especialmente resiliência para conseguir entrar nessa situação, lidar com ela e sair dela fortalecido. E ninguém vai sair igual, a vida não vai ser mais a mesma, como foi antes. Tudo isso causa mudanças físicas e emocionais.”, alerta.
Já para Andrea Pesca, psicóloga, pós-doutora e especialista em psicologia do esporte, o impacto vai além das alterações nos exercícios e é agravado pelas outras mudanças como o distanciamento da vida social, de amigos e familiares. De acordo com ela, a privação de ter uma rotina livre gera ansiedade, irritabilidade e melancolia. “Estamos vivendo em uma época com muitos eventos estressores como isolamento total da família, de amigos e do trabalho. Tudo ao mesmo tempo.”. Portanto, essa mistura de renúncias, inclusive da forma rotineira de praticar atividades físicas, trazem questões também emocionais.
Qual a importância da saúde mental para o atleta?
Bem, além da saúde física, o cuidado com a mente é um grande aliado dos atletas. É por meio dele que aprendemos a lidar com as emoções, desafios e situações que acontecem em qualquer rotina. Além disso, o ambiente competitivo do esporte, que exige desempenho máximo do corpo, também pode ser um agravante para transtornos emocionais, quando o atleta não está preparado psicologicamente.
Para Andrea, no período de isolamento essa atenção deve ser redobrada em dois pontos: no confinamento em si e também na retomada às atividades físicas, já que nessa última pode haver um baque emocional com a volta e a possibilidade de uma nova privação, caso as medidas de isolamento social sejam revogadas. Portanto, é necessário estar bem alinhado com os sentimentos e entender de onde eles vêm. “O atleta precisa se reconectar com suas emoções, saber o que ele sente e porque está a sentir isso. De que emoção vem esse sentimento?”, incentiva a psicóloga.
Nessas horas, a ajuda profissional vem para somar. Em seus anos de experiência, tanto na prática quanto na teoria, Ricardo já conviveu com diversos atletas e viu em cada um deles uma forma diferente de lidar com os fatores emocionais. De acordo com o professor, alguns até conseguem administrar melhor as adversidades, já outros necessitam de apoio externo para se sentirem novamente bem-dispostos e motivados. “Muitos não conseguem lidar sozinhos com isso e precisam de um profissional, um psicólogo que ajude a lidar com essas situações, que mostre o caminho de como sair disso de uma forma positiva.”, alerta.
Sobre esse assunto, Andrea também compartilha da mesma premissa, “O atleta nem sempre consegue lidar com isso sozinho. Precisa de acompanhamento psicológico. É comprovado que o acompanhamento é primordial e complementar aos outros treinamentos não só nessa situação.”, reforça.
Equilíbrio entre corpo e mente
A conexão do corpo e da mente já vem há tempos sendo debatida e juntas fazem parte de um todo, sendo primordial para a saúde mental do atleta e, consequentemente, para um estilo de vida saudável.
“Mente e corpo estão conectados. Um influencia diretamente o outro. Se eu estou doente fisicamente eu posso adoecer mentalmente e vice e versa.”, afirma a psicóloga. Por isso, é tão importante que o atleta comece a se conectar e entender suas emoções e sentimentos. A partir dessa conexão é possível fazer uma análise direta e construtiva, ressignificar o que está sentindo e encontrar, dentro das normas da Organização Mundial da Saúde, o que te faz bem nesse isolamento.
A dica para achar o eixo durante a pandemia é usar técnicas de respiração e mentalização que diminuem a ansiedade e o estresse. Além disso, é preciso ter cuidado também na rotina e não sobrecarregar o corpo com treinos excessivos ou compulsões alimentares.
“A gente vai começar a ver várias situações de pessoas que vão ter aumento do consumo de medicamentos, antidepressivos, regulador de humor, em função da situação.”, pondera Ricardo, que também sugere a construção de novas metas e objetivos possíveis de serem executados a curto e médio prazo. Assim, fica mais fácil manter o foco no que é importante, como os treinos e a saúde física e mental.
De volta à – nova – rotina
Muito se especula sobre a volta gradativa das atividades, mas como o atleta deve lidar com essa retomada? Primeiro é necessário lembrar que a nova rotina não será como a que estávamos acostumados anteriormente e, para isso, é preciso se readaptar: “Cada atleta, cada pessoa, precisa fazer as adaptações personalizadas dos seus treinos para tentar lidar com essa situação sem prejuízos e para que os impactos dessas adaptações e mudanças sejam pequenos.”, recomenda o treinador.
A psicóloga Andrea, vê na retomada das academias uma nova oportunidade para cuidar da saúde mental do atleta e também da física ao lado de um profissional: “Com as redes de treinamentos abertas, respeitando as regras da OMS, máscara e distanciamento social, o atleta tem toda a assessoria especializada para o seu esporte”.
Os estudos e opiniões da área psicológica e da educação física não convergem quando o assunto é cuidar da mente, para ambos os profissionais o importante mesmo é, independente do momento, encontrar o equilíbrio entre corpo e emoção e usá-lo como chave para viver de forma saudável. Então, seja no isolamento ou de volta às atividades sociais, cuide para que esse equilíbrio não se perca e use o exercício físico como aliado na busca pela saúde mental. Ah! E não se esqueça de contar com a Treinus nessa jornada.